A fama não é a mesma, mas a qualidade nutricional do fruto do licuri, uma palmeira típica do sertão nordestino, é muito semelhante à do açaí, uma palmeira amazônica e que tanto sucesso faz como suplemento alimentar num mercado consumidor crescente em todas as regiões do país: o de produtos orgânicos, naturais e ecológicos.
Os percentuais de minerais na composição da polpa do pericarpo dos coquinhos das duas espécies, são característicos de um alimento saudável, que tem um público cativo entre os praticantes de esporte ou pessoas submetidas a rotinas em jornadas de trabalhos cansativos e estressantes.
De acordo com o engenheiro agrônomo José Barbosa dos Anjos, pesquisador da Embrapa Semiárido, no licuri são encontrados zinco, potássio e fósforo em quantidade maior do que no açaí. No caso do cálcio e do ferro, os teores registrados no fruto da Amazônia são levemente superiores. O efeito nutricional da ingestão de polpa de licuri ou de açaí é praticamente o mesmo, garante.
Extrativismo Mas, ao contrário do açaí, que é comercializado nos quatro cantos do país, graças a um trabalho de marketing, o licuri é uma polpa ainda por ser “descoberta” até mesmo na sua área de ocorrência natural: norte de Minas Gerais, passando por toda a porção oriental e central da Bahia, até o sul de Pernambuco, abrangendo ainda os Estados de Sergipe e de Alagoas.
Nesta região, predomina a exploração extrativa da palmeira por grande contingente de agricultores familiares. O trabalho extenuante, de percorrer longos caminhos no meio da vegetação nativa e pastagens para colher os cachos com os frutos, continua no terreiro das casas com a quebra dos coquinhos para a retirada das amêndoas que são levadas para a venda em feiras livres.
A opção mais viável economicamente seria a remoção da polpa, um subproduto do pericarpo dos frutos do licuri, antes de levar os coquinhos para secar nos terreiros.
A maior parte da colheita – cerca de 90% - é adquirida por atravessadores vinculados a grandes compradores que vendem para indústrias processadoras de óleo para produção de saponáceos e cosméticos, localizadas nos municípios baianos de Caldeirão Grande, Miguel Calmon, Nazaré, Santo Antonio de Jesus, Feira de Santana e Senhor do Bonfim.
Segundo Barbosa, o rendimento da extração manual de coco licuri é muito baixo para os agricultores. Em tese, eles recebem R$ 1,00/kg de amêndoas da mão dos atravessadores que repassam para os grandes armazéns ao valor de R$ 1,10/kg. No entanto, na prática, o que se vê é a compra pelo preço médio de R$0,80/kg e, muitas vezes, por montante abaixo desse valor.
A precariedade dos negócios formados em torno da palmeira se estende à venda da casca destinada a cerâmicas como fonte de calor primário na produção de tijolos e telhas. Em 2008, o preço recebido pelo comércio desse co-produto da palmeira chegou a R$ 15,00/ton. No ano seguinte, 2009, o valor subiu para R$ 28,00/ton.
Valorizar
O comércio em torno dessa palmeira, ainda que revele uma atividade marcadamente de subsistência, produz reflexos positivos nos indicadores socioeconômicos na região. O extrativismo gera alguma renda e empregos.
O pesquisador, porém, considera as muitas possibilidades comerciais promovidas por associações de agricultores, organizações não governamentais e pequenos empreendedores locais, com a transformação do licuri em produtos alimentícios. As qualidades nutricionais da polpa equivalentes ao açaí já são um grande apelo comercial para a planta nativa do semiárido, afirma.
Nos últimos dois anos, Barbosa coordenou o projeto “Estratégias de aproveitamento dos co-produtos do coco ouricuri na alimentação humana e animal”, que fez avaliações do licuri como ingrediente na preparação de alimentos, de óleo, de fonte energética, bebida, sabonetes, sabões, detergentes e picolés.
É uma matéria prima que pode ser beneficiada ao nível de propriedade agrícola, ou de comunidades urbanas. Ao agregar valor ao fruto da espécie nativa, além de ter ampliada a sua valorização, até por ser de origem orgânica, fortalece e confere sustentabilidade a um negócio extrativista que se expande por extensa área do semiárido brasileiro, em especial o território baiano.
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Polpa do licuri - foto Embrapa |
Fonte: Globo Rural / Embrapa